Crime ambiental praticado pelo poder público municipal: uma análise sobre a aplicabilidade da Lei de Improbidade Administrativa

Autores

DOI:

https://doi.org/10.20435/inter.v24i3.3553

Palavras-chave:

meio ambiente, danos ambientais, ação civil, agente público

Resumo

O presente trabalho aborda a relação entre o Estado e o meio ambiente, objetivando avaliar os inquéritos abertos pelo Ministério Público do Estado de São Paulo (MPSP) e pelo Ministério Público Federal (MPF) de Jales, da 24ª e 37ª Subseção Judiciária Federal, a coerção e a sanção dos crimes ambientais de atos e/ou omissões dos agentes públicos municipais (prefeitos) perante a Lei de Improbidade Administrativa, decorrente do dano ambiental. O estudo foi realizado por meio de coleta de dados com o MPSP e o MPF de 48 municípios da região noroeste paulista, em procedimentos abertos no período de janeiro de 2008 a agosto de 2021, cujos réus fossem prefeitos e municípios. Após a coleta de dados, houve a tabulação e a correlação com a bibliografia, a legislação e a jurisprudência encontrada. Identificou-se que foram abertos 120 procedimentos, e a maioria desses inquéritos evoluiu para ações civis públicas pelo MPSP, sendo que grande parte deles eram inquéritos civis, enquanto os restantes eram inquéritos policiais. Além disso, o MPF de Jales abriu um total de 606 procedimentos, e a maioria deles evoluiu para ações civis públicas. Conclui-se que o MPSP das comarcas e o MPF de Jales vêm cumprindo o dever constitucional na proteção ambiental; entretanto, identificou-se que os prefeitos acabam não sofrendo sanções da Lei de Improbidade Administrativa por crimes ambientais. Observou-se que o principal objetivo do Ministério Público Estadual e do Federal é a reparação do dano e a cessação da atividade que o gera, e não a coerção do agente que pratica ou omite ações geradoras do dano ambiental.

Biografia do Autor

Greice Kelli Lopes Santos de Lima, Universidade Brasil (UB), Fernandópolis, São Paulo, Brasil.

Mestre em Ciências Ambientais pela Universidade Brasil (UB). Tecnóloga em Gestão Empresarial pela Faculdade de Tecnologia Prof. José Camargo (Fatec Jales). Graduada em Direito pelo Centro Universitário de Santa Fé do Sul (UNIFUNEC). Professora nos cursos de Direito e Medicina da Universidade Brasil (UB).

Evandro Roberto Tagliaferro, Universidade Brasil (UB), Fernandópolis, São Paulo, Brasil.

Doutor em Administração Empresarial e Comércio Internacional pela Universidade de Extremadura (UNEX). Mestre em Administração Empresarial e Comércio Internacional pela Universidade de Extremadura (UNEX). Graduado em Engenharia Civil pela Faculdade de Engenharia de São José do Rio Preto (FESJRP). Professor Titular no Programa de Pós-Graduação stricto sensu em Ciências Ambientais.

Danila Fernanda Rodrigues Frias, Universidade Brasil (UB), Fernandópolis, São Paulo, Brasil.

Doutora em Medicina Veterinária pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP). Mestre em Ciências Veterinárias pela UNESP. Graduada em Medicina Veterinária pela Universidade Brasil (UB).

João Adalberto Campato Jr, Universidade Brasil (UB), Fernandópolis, São Paulo, Brasil.

Doutor e mestre em Letras pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP). Bacharel em Letras com Habilitação de Tradutor pela UNESP.

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Publicado

2023-10-20

Como Citar

Lima, G. K. L. S. de ., Tagliaferro, E. R. ., Frias, D. F. R. ., & Campato Jr, J. A. . (2023). Crime ambiental praticado pelo poder público municipal: uma análise sobre a aplicabilidade da Lei de Improbidade Administrativa. Interações (Campo Grande), 24(3), 763–781. https://doi.org/10.20435/inter.v24i3.3553